As crises de pensamento decorrentes das grandes mudanças verificadas no mundo durante a última metade do século XX e início deste século levaram as Ciências Sociais e Humanidades a acelerar a sua reconceptualização num esforço tendente a clarificar e redefinir o seu papel na sociedade. Hoje, mais do que nunca, se debate sobre a finalidade das Ciências Sociais. Questionamonos sobre o seu contributo para a formulação e resolução dos problemas contemporâneos, incluindo de que forma elas podem ajudar a uma maior eficácia na tomada de decisões políticas e administrativas. Questionamo-nos, inclusivamente, sobre o futuro das próprias Ciências Sociais e Humanidades, futuro esse que depende em grande medida da pertinência das visões do mundo que nos proporcionam. A procura de respostas para estes questionamentos não pode estar dissociada da discussão em torno da problemática referente à produção e apropriação do conhecimento. A cultura científica é actualmente encarada como uma dimensão fundamental das sociedades contemporâneas, na medida em que interfere com todos os domínios da vida social. Ela representa o vector decisivo da modernização e do desenvolvimento.
Como fazer ciências sociais e humanas em África: questões epistemológicas, metodológicas, teóricas e políticas (Textos do Colóquio em Homenagem a Aquino de Bragança) tem o formato de ‘actas’ de um colóquio onde o pretexto da evocação de uma personalidade marcante e do seu legado criou espaço para um cruzamento de ideias sobre o caminho percorrido e o futuro das Ciências Sociais e Humanas no continente africano. Com comunicações centradas nas experiências de países africanos, com destaque para os falantes da Língua Portuguesa, o cosmopolitismo que marcou a vida de Bragança levou os autores desta compilação de textos a trazerem para debate problemas de relações internacionais que envolvem, para além de África, a Europa e a América. As ideias e contribuições que compõem esta obra mostram-nos também a importância do casamento entre as Ciências Sociais e as Humanidades. O cruzamento de ideias espelhado nesta obra reflecte ao mesmo tempo as rupturas e continuidades que marcam pelo menos três gerações de académicos africanos das universidades nacionais após as independências. Em alguns casos é possível ler pontos convergentes, mas também contraditórios ou nem sempre concordantes, entre os diversos autores. As suas opiniões abrem, entretanto, novos caminhos para a pesquisa. Afinal de contas, é desta luta de contrários e da procura de convergências que se constroem ideias e projectos, é este o caminho do pensamento científico.
Teresa Cruz e Silva Professora e pesquisadora do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane em Maputo, é doutorada em Ciências Sociais pela Universidade de Bradford (Grã-Bretanha).
João Paulo Borges Coelho Escritor e historiador moçambicano doutorado pela Universidade de Bradford, é professor de História Contemporânea na Universidade Eduardo Mondlane.
Amélia Neves de Souto Doutorada em História Institucional e Política Contemporânea (séculos XIX e XX) pela Universidade Nova de Lisboa (Portugal), é Professora na Universidade Eduardo Mondlane, e pesquisadora do Centro de Estudos Africanos da mesma universidade.
ISBN: 978 286978 505 2
CODESRIA 2012